O SURGIMENTO DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE. Subsídio para Lição Bíblica - 1ª Trimetre/2012
Marcadores: APOLOGÉTICA, LIÇÕES BÍBLICAS
O estudo sobre a Teologia da Prosperidade através das Lições Bíblicas chegou numa boa hora. Alguns televangelistas no Brasil, que outrora eram combatentes de tal heresia, hoje, para espanto de muitos propagam e defendem abertamente (ou sorrateiramente) os seus princípios.
Na condição de movimento doutrinário, a Teologia da Prosperidade se desenvolveu após os anos 70, encontrando espaço nos grupos evangélicos pentecostais. Sobre isto comenta Pieratt
[...] o pentecostalismo não foi o pai desse novo evangelho, embora talvez possa ser chamado de padrasto, por causa da forma como o abraçou e seguiu seus ensinos. Então, a primeira pergunta que se levanta é por que as denominações pentecostais têm sido mais abertas a esse ensino do que qualquer outro grupo protestante. A resposta parece estar na tendência que elas têm de aceitar dons de profecia e profetas dos dias atuais que afirmam exercer esses dons. Por causa da abertura para visões, revelações e orientações espirituais contínuas fora da Bíblia, cria-se um espaço para a entrada das afirmações do evangelho da prosperidade.[1]
Uma afirmação muito interessante neste enunciado de Pieratt é o fato de que o evangelho da prosperidade não se sustenta na autoridade das Santas Escrituras, mas, na autoridade dos “profetas” da atualidade (ou dos carismas). O motivo disto é a sua fraca sustentação à luz de uma análise exegética e hermenêutica séria e ortodoxa, baseada numa interpretação histórico-gramatical da Bíblia.
Observe o que escreveu Hagin
O próprio Senhor me ensinou sobre a prosperidade [...] recebi isso diretamente do céu.” (in How God Taugh Me About Prosperith, 1991 apud ANKERBERG e WELDON, 1996, p. 32). Em Solving the Mystery of the Miracle Money (Resolvendo o Mistério do Dinheiro Milagroso), Robert Tilton afirma que: “As palavras deste livro não são minhas; são palavras do [...] Espírito Santo [...].[2]
Em qualquer época, toda reivindicação de autoridade profética, ou de veracidade da profecia, esteve relacionado à revelação de Deus em seus escritos inspirados
Quando profeta ou sonhador se levantar no meio de ti e te anunciar um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio de que te houver falado, e disser: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los, não ouvirás as palavras desse profeta ou sonhador; porquanto o SENHOR, vosso Deus, vos prova, para saber se amais o SENHOR, vosso Deus, de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. Andareis após o SENHOR, vosso Deus, e a ele temereis; guardareis os seus mandamentos, ouvireis a sua voz, a ele servireis e a ele vos achegareis. (Dt 13.1-4, ARA)
Um texto muito utilizado para fortalecer a autoridade do “profeta” em detrimento das Escrituras é 2 Crônicas 20.20
E, pela manhã cedo, se levantaram e saíram ao deserto de Tecoa; e, saindo eles, pôs-se em pé Josafá e disse: Ouvi-me, ó Judá e vós, moradores de Jerusalém: Crede no SENHOR, vosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas e prosperareis.
Observe que primeiro se deve crer em Deus. Crer no profeta e prosperar está condicionado ao fato do profeta estar em obediência à palavra de Deus. Um profeta herege é um profeta destituído de autoridade espiritual, pois esta depende da submissão ao Pai.
Profecia e teologia devem caminhar de mãos dadas, sendo toda profecia passiva de julgamento (1 Co 14.29) pela teologia (interpretação e sistematização dos mandamentos). A voz de Deus nos mandamentos (texto inspirado), não pode destoar da voz de Deus na profecia (carisma inspirado). Desta forma, teologia e profecia se complementam, em vez de serem entendidas como manifestações antagônicas.
Outro fato digno de nota foi que a doutrina da prosperidade em sua origem, esteve intimamente relacionada à expansão do televangelismo norte-americano
Foi o televangelista Oral Roberts quem criou a noção de "Vida Abundante" e deu início à pregação da doutrina da prosperidade, prometendo retorno financeiro sete vezes maior do que o valor ofertado. Roberts passou a dar maior ênfase a tal mensagem a partir de 1954, quando, ao ingressar na TV, suas despesas aumentaram consideravelmente. [...] Nos anos 70, essa doutrina ganharia maior projeção por meio do ministério de Kenneth e Gloria Copeland, que a radicalizaram prometendo retorno centuplicado dos dízimos e ofertas. [...] A origem das doutrinas sobre prosperidade manteve íntima conexão com a expansão do televangelismo norte-americano . [...] em função do aumento da competição entre os televangelistas, o tempo na TV tornou-se mais caro para eles. O custo dos programas subiu mais que a audiência. Pressionados pelas despesas crescentes de seus projetos, que foram se tornando cada vez mais ambiciosos, os televangelistas refinaram as formas de levantar fundos, integrando os apelos financeiros à teologia [...]. Não é à toa que a Teologia da Prosperidade ingressou no Brasil e se espraiou em diversos segmentos evangélicos por meio dos neopentecostais, justamente os mais ativos difusores do televangelismo entre nós.[3]
No Brasil, após encontrar bastante espaço em alguns segmentos do neopentecostalismo, a Teologia da Prosperidade achou guarida no pentecostalismo clássico, mais especificamente nas Assembleias de Deus, ultimamente travestida de “Vitória Financeira”, tendo como fundamento teórico as anotações do pastor Morris Cerullo na Bíblia de Estudo Batalha Espiritual e Vitória Financeira (refutadas em meu livro Uma Igreja com Saúde), amplamente divulgada e recomendada pelo pastor assembleiano Silas Malafaia em seu programa de televisão, através de campanhas de “semeaduras” financeiras elitizadas, prometendo ganhos financeiros e materiais aos “semeadores”, repetindo desta maneira os mesmos lamentáveis fatos ocorridos entre os televangelistas americanos.
A prosperidade é uma verdade bíblica (Gn 39.23; Js 1.8; 2 Cr 20.20; 26.5; Sl 1.1-3; 122.6; 2 Co 9.10-11 ss), mas a Teologia da Prosperidade (ou da Vitória Financeira) é uma heresia perniciosa e oportunista. Com sua ênfase demasiada nas riquezas, suas exegese deturpada, seus métodos de levantamento de fundos agressivos e seus falsos profetas, a Teologia da Prosperidade não passa de uma corrupção doutrinária absurda, que deve ser veementemente combatida e repudiada no meio cristão.
Para finalizar, reproduzo abaixo o texto de um post que publiquei aqui no blog, intitulado “Nem Teologia da Prosperidade, nem Teologia da Miserabilidade”
E digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para tornar abundante em vós toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda suficiência, superabundeis em toda boa obra, conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre. Ora, aquele que dá a semente ao que semeia e pão para comer também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça; para que em tudo enriqueçais para toda a beneficência, a qual faz que por nós se dêem graças a Deus. (2 Co 9.6-11)
Tão nociva quanto a Teologia da Prosperidade (ou da Vitória Financeira), defendida pelos televangelistas aproveitadores da ingenuidade alheia, que apelam para a autoridade de falsos profetas importados, é também a Teologia da Miserabilidade.
Enquanto a Teologia da Prosperidade apela para o "dar tudo", a Teologia da Miserabilidade retém tudo.
O texto bíblico citado acima nos oferece uma base sólida e clara para a prática da contribuição financeira na igreja.
Em primeiro lugar, o apóstolo Paulo nos exorta a semear com abundância. Obviamente, tal abundância é proporcional à realidade financeira de cada um. Dessa forma, para alguns R$ 100,00 será uma oferta abundante, enquanto que para outros, o valor abundante será R$ 100.000,00.
Em segundo lugar, a contribuição é baseada numa decisão subjetiva e livre por parte do ofertante. Ninguém lhe propõe, nem estabelece valores ou quantidade. Não há desafios, não há apelações, não há manipulações, não há coações.
Em terceiro lugar, o ato livre e consciente de contribuir deve ser motivado pelo sentimento certo. É a alegria que norteia a liberalidade do ofertante. Nada de culpas, nada de tristezas, nada de medos, nada de barganhas.
Em quarto lugar, o propósito da abundância, da suficiência, da multiplicação e do enriquecimento precisa estar bem compreendido e definido pelo ofertante. Prosperamos para superabundarmos em toda a boa obra. Somos enriquecidos para toda beneficência.
Entendendo dessa forma os princípios norteadores da contribuição financeira à luz do Novo Testamento, abominaremos a Teologia da Prosperidade (ou da Vitória Financeira), rejeitaremos igualmente a Teologia da Miserabilidade e vivenciaremos a Teologia da Generosidade para a glória de Deus.
[1] Pieratt, 1993, p. 21.
[2] Apud, ibid., p. 33.
[3] Mariano, 1999, p. 152.
Referências Bibliográficas
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
Pieratt, Alan B. O evangelho da prosperidade: análise e resposta. São Paulo: Vida Nova, 1993.
Fonte: Altair Germano
Divulgação: www.jorgenilson.com
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