Revista Veja: Influência evangélica na política dos EUA é cada vez mais fraca
Comentário de Julio
Severo:
A reportagem a seguir, preparada pela jornalista Cecília Araújo da revista Veja, revela como quase 50 por cento dos
jovens americanos estão abandonando as igrejas protestantes históricas
(presbiteriana, luterana, etc.) para se tornarem esquerdistas. Mas o
problema não está só aí. Os que não abandonam estão também pesadamente
envolvidos com o esquerdismo, como comprovam as maiores denominações
protestantes dos EUA (presbiterana e luterana), que estão ordenando pastores
gays e pastoras lésbicas, apoiando o aborto, etc.
A
maior força evangélica hoje de fato conservadora nos EUA são, conforme aponta Veja, as igrejas pentecostais e
neopentecostais. E tal qual ocorre no Brasil, a mídia em geral e a esquerda em
particular nos EUA têm mirado nelas, especialmente nos neopentecostais, por
causa de seu potencial de confronto na guerra cultura contra o aborto e a
agenda gay.
O
quadro nos EUA é sombrio. Mesmo crescendo muito, a multiplicação das igrejas
neopentecostais é insuficiente para neutralizar a esmagadora influência
esquerdista de mega-denominações protestantes pró-aborto e pró-homossexualismo.
Essas igrejas estão perdendo seus jovens, deixando na sociedade americana ex-membros
prontos para combater, do lado esquerdista, na guerra cultural.
Graças
ao esquerdismo em massa das igrejas protestantes americanas, estamos assistindo
ao pôr-do-sol do país que já foi a maior nação protestante do mundo.
Não
sei se a multiplicação neopentecostal nos EUA conseguirá deter décadas de
esquerdismo na política, cultura e igrejas protestantes dos EUA. Só sei que é
preciso apoiar quem está fazendo diferença. Michele Bachman (tipo
neopentecostal) é quase que a única que está fazendo diferença como evangélica genuinamente
conservadora na política dos EUA, embora a pentecostal Sarah Palin tenha feito
muita coisa também.
A
matéria da Veja a seguir não é
conservadora, mas mostra o que está acontecendo com os evangélicos dos EUA.
Peso do eleitorado evangélico nos EUA é cada vez menor
Preocupação com a crise financeira, ascensão das minorias e mudança no perfil do eleitorado religioso deslocam a tradicional agenda evangélica
Cecília Araújo
Em maio, Barack Obama tornou-se o primeiro presidente
americano a declarar apoio ao casamento gay.
Estava fazendo história, é certo, mas também cálculo político. Em 2004,
quando o democrata dizia acreditar que o casamento devia ser 'entre um homem e
uma mulher', eram 60% os americanos contrários à união homossexual. Em 2012, quando tenta reeleger-se, são
43%, de acordo com pesquisa do Pew Research Center.
O republicano Mitt Romney, o rival de Obama na disputa
pela Casa Branca, também está fazendo história. É o primeiro mórmon a disputar a presidência americana. Tendo escolhido
o católico Paul Ryan para vice, Romney rompe uma tradição do Partido
Republicano que vem desde 1860: a de ao menos um dos dois nomes da chapa ser
protestante.
A aposta de democratas e republicanos é a mesma de dez
entre dez analistas: esta eleição está pautada pela economia.
Mas isso não significa que os dois grandes partidos americanos, muito bem
munidos de pesquisas e estrategistas, tenham deixado de levar em conta questões
morais e religiosas que há tempos influem nas escolhas dos eleitores. Eles
apenas ajustam suas estratégias ao peso que essas questões têm no momento.
"Há nos Estados Unidos uma base religiosa que segue regras morais com
muita firmeza. Mas devido à crise financeira, a religião foi colocada em segundo plano, deixando a salvação da
economia como prioridade para o próximo governo", afirma Eduardo
Oyakawa, professor de Filosofia na Graduação da ESPM-SP e especialista em
sociologia da religião.
Crescei e multiplicai-vos – A mobilização sistemática do eleitorado evangélico é uma cartada
dos anos 1970. Esta década assistiu à
multiplicação das correntes protestantes pentecostais e neopentecostais,
comumemente tratadas por 'evangélicas' (leia ao lado). Desde então,
evangélicos superam numericamente os fiéis das denominações protestantes
históricas (luteranos, calvinistas etc.).
Em 1976, a revista Newsweek dedicou uma
capa ao 'Ano dos Evangélicos'. Naquela eleição, esta fatia do eleitorado apoiou
majoritariamente um democrata, o diácono batista Jimmy Carter, contra o
republicano Gerald Ford, o vice de Richard Nixon, que renunciara dois anos
antes, na esteira do escândalo Watergate. Na eleição seguinte, que levou Ronald
Reagan à Casa Branca, o voto evangélico migrou para o Partido Republicano e a
ele tem sido fiel desde então.
Como observam os cientistas Eric Kaufmann e Vegar
Skirbeek em Demografia política: como as mudanças populacionais estão
remodelando questões de segurança internacional e política nacional (em
tradução livre), lançado em junho, há em boa parte do mundo uma forte
correlação entre altas taxas de fecundidade e devoção religiosa, e entre
devoção religiosa e identificação com siglas conservadoras. Isto vale
especialmente para o apoio dos evangélicos ao Partido Republicano. O Grand
Old Party, como também é chamado, tem a simpatia da maioria dos cristãos, mas é
o eleitorado evangélico branco que lhe dá a mais expressiva vantagem (70%) (veja
infográfico).
Paradoxo conservador – Nos anos 2000, o voto evangélico perde peso por duas razões. Uma
delas é demográfica. Com altas taxas de fecundidade, os evangélicos tendem
a ganhar representação em relação ao eleitorado secular, que nos Estados Unidos
costuma favorecer o Partido Democrata. No entanto, o crescimento populacional
de latinos, asiáticos e negros, que
até 2050 serão a maioria da população
americana, é ainda mais acelerado. E embora confissões evangélicas também sejam
populares entre as minorias, sua orientação política é bem mais difusa.
Kaufmann e Skirbeek apontam na Califórnia uma expressão
deste paradoxo: em 2008, o estado votou maciçamente (61%) em Obama e também na
Proposta 8, que proibia o casamento gay. Ou seja, a agenda moral ainda é forte
e mobilizou uma espécie de coalizão 'ecumênica' de evangélicos brancos e
negros, católicos hispânicos, mórnons etc. Mas já ficou em segundo plano na
disputa pela Casa Branca. Até no governo George W. Bush, fortemente
identificado com a direita cristã, houve uma tentativa de limitar a influência
dos evangélicos no primeiro escalão, como lembra Larry Eskridge, diretor
adjunto do Instituto para o Estudo dos Evangélicos Americanos, do Wheaton
College, em Illinois.
A perda de representatividade do tradicional eleitorado
evangélico na política americana também é uma questão geracional, já captada em
pesquisas de opinião. Eskridge aponta que os jovens evangélicos estão menos
dispostos a empunhar as bandeiras de seus pais e mais propensos a apoiar causas
identificadas como liberais, como preservação ambiental, assistência aos mais
pobres, tolerância à imigração etc. Segundo um estudo recente do Grupo Barna, 43% dos evangélicos no final da
adolescência e jovens adultos deixaram a igreja tradicional [presbiteriana,
luterana, batista, etc.] para seguirem crenças mais liberais.
"A visão dos evangélicos tradicionais é moldada por
um desejo de restaurar normas do passado. Mas o perfil da comunidade evangélica
tem mudado nos últimos anos e dado espaço a um segmento mais liberal", diz
o americano Jonathan Dudley, autor do livro Broken Words: The Abuse of
Science and Faith in American Politics (Palavras Quebradas: O Abuso da
Ciência e da Fé na Política Americana, tradução livre), ele próprio um exemplo
desta geração evangélica mais liberal.
Valores – O
dilema de Romney é que ele ainda precisa mobilizar os republicanos que viram
com desconfiança a indicação de um mórmon para presidente, mas sem assustar os
eleitores moderados ou indecisos – a fatia que tradicionalmente decide a
corrida pela Casa Branca. É sintomático que o republicano não tenha
explorado em campanha a declaração de Obama sobre o casamento gay. Seu cálculo
é que a repercussão poderia ajudar o democrata a engajar ainda mais eleitores
liberais, o que, numa eleição em que o voto não é obrigatório, pode fazer a
diferença.
O republicano joga suas fichas no debate econômico, com
foco no desemprego (que continua acima dos 8%), déficit fiscal e corte de
gastos. E faz acenos estudados à direita religiosa. Em 2011,
provocado por uma organização conservadora, Romney se recusou a assinar um compromisso contra o aborto. Em
2012, já candidato, alinhou-se. 'Os candidatos evitam o risco de perder
eleitores que não compartilham de sua posição', diz Dudley. 'Mas há também um
risco em não se tomar uma posição firme sobre questões morais. Embora a
prioridade hoje seja a economia, republicanos e democratas querem saber se seu
candidato partilha de seus valores fundamentais.'
Fonte:
Revista VejaDivulgação: www.jorgenilson.com
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