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27 de dez. de 2011

Datafolha desvenda o mistério das multidões paulistanas

Datafolha desvenda o mistério das multidões paulistanas

Domingo, 25/12/2011 - 23:30

"Somos 4 milhões. É a maior do mundo!" Foi com esse grito que os organizadores da 15ª Parada Gay comemoraram, no chuvoso domingo de 26 de junho, a saída do último trio elétrico da rua da Consolação, no centro, ao final do evento. Na quinta-feira anterior, tinha sido a vez de os evangélicos festejarem sob sol forte na Marcha para Jesus, na pça. Campo de Bagatelle (zona norte). O saldo, segundo a organização, foi de 5 milhões de pessoas.




É certo que os dois eventos reuniram centenas de milhares de participantes. Ambos estão na lista das maiores aglomerações que a cidade recebe anualmente, ao lado do Réveillon, também na Paulista. Porém, as leis da física e da matemática colocam os números divulgados sob suspeita mesmo para quem não entende nada de física ou de matemática.


Foto aérea mostra o desfile da última Parada Gay, na avenida Paulista, na altura do MASP
Para pôr fim à imprecisão e a esse antigo debate paulistano, o Datafolha calculou a quantidade máxima de pessoas que os três principais espaços a sediar eventos do tipo --avenida Paulista, praça Campo de Bagatelle e vale do Anhangabaú-- têm condição de abrigar. Mesmo com estimativas bastante generosas, é possível afirmar: não cabe tudo isso de gente.

Segundo o instituto de pesquisa, 1,5 milhão de pessoas é a lotação máxima do trecho Paulista-Consolação, caminho que a Parada Gay percorre. Isso num cálculo superestimado, considerando sete pessoas por metro quadrado, sufoco semelhante ao enfrentado por passageiros que embarcam na estação Sé do metrô no horário de pico. Para que 4 milhões ocupassem esses 216 mil m², seria necessário que 18 pessoas se espremessem em cada metro quadrado, algo só possível para contorcionistas como os da escola Acrobacia e Arte, convidados para ilustrar a capa desta edição.

Já os 5 milhões da Marcha para Jesus só seriam alcançados se 30 pessoas ocupassem cada metro quadrado do entorno da pça. Campo de Bagatelle e da avenida Santos Dumont, em Santana, cuja área total chega a 164 mil m². De acordo com o Datafolha, no máximo 1,15 milhão de pessoas podem ser reunidas ali.

Os organizadores argumentam que os eventos são itinerantes, duram mais de cinco horas e, por isso, recebem novos adeptos ao longo do dia. Mas, para especialistas, mesmo uma conta que contemple esse fluxo não resulta nos inflados milhões.

Se todos os espaços fossem preenchidos tanto na Paulista como na Consolação ao mesmo tempo, de calçada a calçada, 1,5 milhão de pessoas estariam grudadas umas às outras e praticamente imóveis durante a Parada Gay, segundo o Datafolha.

"Esses eventos mobilizam milhares de pessoas em temas de grande apelo político, econômico e ideológico. É claro que existe interesse de quem divulga em inflar os números", explica Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto. "Com essa medição, é provável que, nos próximos eventos, eles, sabendo que existe um limite, pensem duas vezes antes de divulgar."

O Datafolha usou como referência o manual de cálculo de multidões feito pelo Centro de Estudos e Pesquisas de Desastres (CEPD), da Prefeitura do Rio. Para chegar à lotação máxima desses espaços paulistanos, o instituto fez intencionalmente um cálculo superestimado. A área medida incluiu bancas de jornais, árvores, canteiros e outros espaços que não são ocupados. E também considerou que sete pessoas cabem em um metro quadrado, uma situação de confinamento que não acontece em eventos ao ar livre.

"Sete pessoas por metro quadrado são possíveis em áreas fechadas, como em um ônibus, onde os passageiros se empurram. Em áreas abertas, a aglomeração jamais passa de cinco por m²", explica o engenheiro Bruno Engert Rizzo, autor do manual do CEPD. Se essa regra fosse aplicada, o público nos eventos analisados pelo Datafolha seria ainda menor. (...) (Giba Bergamim Jr., na Folha)

Fonte: Jornal da Mídia

Divulgação: www.jorgenilson.com

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