Os amigos do poder e o poder dos amigos

Os amigos do poder e o poder dos amigos

Jorge Nilson

Assim definiu com muita destreza o jornalista Nino Bellieny quando escreveu "O amigo do Poder": “Não importa quem esteja no comando, importa o comando. O amigo do poder não escolhe pessoas, escolhe a situação em que elas se encontram. Ele tem uma capacidade de farejamento inigualável e percebe antes da maioria quem vai se dar bem e quem vai se dar mal. Estando do lado fraco, sabe pular na hora certa para o forte em uma dança bem feita de posições sempre as mais cômodas. O amigo do poder é a síntese de todo o interesse que há no mundo, seja político, midiático, religioso, artístico, esportivo ou em uma simples associação de moradores. Ali está o amigo do poder, solícito, atento, aflito para ajudar… enquanto vantagem puder levar. Não se constrange em forçar intimidades, criar do nada uma relação afetiva com aquele que momentaneamente esteja ocupando um importante cargo”.

Já convivi com pessoas assim. Lembro de um cidadão que trabalhava comigo numa certa empresa e que se fingia amigo do diretor. Constantemente ele estava na casa do diretor chamando-o de pai. A esposa do chefe ele chamava de mãe. Os filhos ele tratava com muito esmero e puxa-saquismo. Durante três anos em que trabalhei ao lado deste chefe, estive em sua casa umas três a quatro vezes. Já esse “amigo” do presidente, parecia até morar na casa, pois constantemente estava presente. Viajavam juntos, dava-lhes presentes, fazia banquetes e defendia-o com unhas e dentes. O chefe era muito amável e sempre gostava de tratar bem a todos. Trabalhava mais com o coração que a razão. Hoje, este amigo está com o outro presidente. Defende-o totalmente, ainda que esteja errado; mas que importa, ele é amigo do poder e não das pessoas. 

Esse tipo de gente não escolhe o caráter de uma pessoa para ser amigo, escolhe a posição em que ela está. Esse interesse pelo poder é perceptível, pois atualmente este amigo não visita este ex-presidente e nem o chama mais de pai. Agora, o cara, é o atual diretor. O outro já não tem mais o poder, então para quer defendê-lo? Bajulá-lo, que lucro terá? São interesses espúrios, e o pior, isso no meio eclesiástico. Certa vez, como eu era o responsável pelo setor, relatei ao presidente os erros deste cidadão, pois era minha obrigação agir assim, o presidente simplesmente fez vista grossa, pela “amizade” que havia entre eles. Pois foi justamente a maneira de trabalhar deste colega, umas das coisas  que levou-o  à derrota nas eleições. Agora, mais recentemente, houve denúncias contra este cidadão, e simplesmente o atual chefe o defendeu, para não cair juntos. São os amigos do poder trabalhando com os poderes podres dos amigos.

Muitos de nós somos amigos uns dos outros pelo interesse. Jonatas era amigo de Davi, mesmo sabendo que Davi iria reinar em seu lugar quando Saul deixasse o cargo. Você já se sentiu abandonado pelos seus “amigos” quando sua situação ficou desfavorável? É difícil escolher os melhores amigos, pois não sabemos quem são eles. Conheço um outro amigo, que após a sua queda, ninguém o visitou. Quando fui visitá-lo ele me disse: só você veio me visitar até hoje. Ninguém mais. 

Você não é obrigado a concordar com tudo que acabei de dizer, mas seja sincero, você tem amigos de verdade? Seja na doença ou na saúde? Na bonança ou na escassez? Na paz ou na guerra? No poder ou sem ele? Ter um amigo é melhor que ter dinheiro. Lembra daquele ditado antigo: é melhor ter um amigo na praça que dinheiro na Caixa? Se você tem, parabéns. Espero que você nunca precise dele. Só saberás se ele é seu amigo quando você estiver na pior e ele continuar o mesmo.

Amigo, chora com você. Amigo, não o abandona nas horas difíceis. Amigo, não defende os seus erros, ele lhe ajuda a sair deles. Os verdadeiros amigos além de orar por você, lhe aconselha a abandonar os seus erros.