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21 de abr. de 2011

A Desmoralização da Disciplina Eclesiástica

A Desmoralização da Disciplina Eclesiástica

Por Cleyton Gadelha
A Desmoralização da Disciplina Eclesiástica

Muito se tem discutido sobre a necessidade de as igrejas locais praticarem o claro ensino bíblico da disciplina de membros que se mostrarem endurecidos e pecaminosos. Ananias e Safira (At.5), o imoral de 1 Cor.5 os falsos ensinadores de 2 João 1:10-11, e o faccioso de Tito 1:10, estabelecem clara convicção sobre essa doutrina. Textos é o que não faltam para assegurar a escrituricidade do assunto.

Entretanto, dentro da cristandade plural dos nossos dias, ações disciplinadoras têm perdido completamente sua eficácia, em razão de várias igrejas e pastores receberem como membros àqueles que vêm excluídos de outras comunidades co-irmãs.

O crente excomungado (apartado da comunhão) em uma igreja frustra o seu próprio processo disciplinar transferindo-se para outra igreja local, que, o receberá em sua comunhão, sem nenhum respeito pela ação disciplinar da igreja da qual o crente em estado de excomunhão é oriundo.

O efeito de tal prática é desmoralizante para a Igreja de Cristo e para os ministros do Evangelho. Já vi gente suspeitando que essa prática, em alguns casos, tem em vista o aumento de receita financeira por parte do pastor que desrespeita a decisão disciplinar de uma igreja co-irmã. Os prejuízos causados por essa prática são muitos.

Primeiro: Torna trivial a prática de igreja desmoralizar igreja. Para Calvino um dos propósitos da disciplina eclesiástica é “Preservar a honra de Deus através da Igreja”.

Segundo: Promove o descaso da membrezia para com qualquer ação disciplinadora por parte da igreja local. Os crentes sabem que, se forem excluídos de sua igreja, serão recebidos por alguma outra ávida por números.
Fica perdido um dos propósitos da excomunhão, que é infundir na congregação o temor do pecado (1Tim.5:20). O objetivo de “evitar a corrupção dos piedosos” (Calvino), fica completamente comprometido.

Terceiro: Promove o endurecimento do membro excomungado, que perde uma das marcas mais importantes de um eleito que é um profundo respeito para com as igrejas de Cristo.

A excomunhão tem dois propósitos claros:
1) “… foi instituída a fim de que sejam afastados e expulsos da congregação dos crentes aqueles que, falsamente, simulando fé em Cristo, pela indignidade da vida e licenciosidade desenfreada de pecado, nada mais são do que um escândalo para a Igreja, sendo, portanto, indignos de se gloriar no nome de Cristo”. (Calvino).

2) Mas a excomunhão é também um meio de forçar o arrependimento “… embora a disciplina eclesiástica não nos permita viver com familiaridade com pessoas excomungadas ou ter íntimo contato com elas (1Cor.5:11), todavia devemos… pela exortação, ensino… (e) orações (pedir) a Deus para que elas possam (arrependidas) retornar a comunhão da Igreja”.

Ao desrespeitar a ação disciplinadora de uma igreja co-irmã, o pastor e a igreja recptora estão praticando uma ofensa ao Senhor da Igreja, pois frustram um processo recomendado por ele e pelos seus apóstolos, que deve ser exercido sobre pessoas endurecidas com, pelo menos, três objetivos:

1) “a fim de que eles não sejam contados entre os cristãos… como se a Igreja fosse uma conspiração de malfeitores e homens notoriamente ímpios. 2) A fim de que, por relacionamentos freqüentes, eles não corrompam outros pelo exemplo de uma vida perversa. E 3) Para que possam começar a se arrepender consternados pela vergonha…” (Richard de Rider citado por Heber Campos Jr./Fides Reformata Vol.X nº1/2005).

Portanto “a liderança da congregação local faz bem em lembrar-se de que o Senhor irá requerer de suas mãos uma prestação de contas. (…) Aquilo que o membro disciplinado faz, torna-se responsabilidade pessoal dele; aquilo que os líderes deixam de fazer é, inevitavelmente, responsabilidade deles…” (L. de Koster).

Calvino distinguiu três marcas nos eleitos: “Confissão de fé, exemplo de vida e participação nos sacramentos”, marcas que ligam visivelmente o crente a igreja de Cristo. Martin Bucer, e os calvinistas depois de Calvino, asseveravam que a disciplina eclesiástica é uma das marcas de uma verdadeira igreja de Cristo.

Essas marcas só se tornam visíveis no contexto de uma igreja local (visível). É no seu âmbito que o eleito faz declaração de sua fé, participa do batismo e da ceia do Senhor, e é também ali onde ele é submetido a disciplina, quando a marca de uma vida exemplar dá lugar a um endurecimento pecaminoso.

“Para o protestantismo, a igreja universal torna-se visível na congregação local, é ali que o poder das chaves é exercido e a disciplina administrada”.(L.deKoster) (Mt.16:19).

Se “Cristo governa a Igreja por meio da Igreja” (Ernest Kevan), o desrespeito praticado por pastores e igrejas que desconsideram as ações disciplinadoras de outras igrejas, é desrespeito contra o governo de Cristo.

As Igrejas e pastores que passam por cima de medidas disciplinatórias de igrejas co-irmãs estão em completo desacordo com o Novo testamento. Não faria sentido a Escritura ensinar a uma igreja local “… sobre a importância de manter a integridade da Igreja ao lidar com pecado persistente na congregação” (Franklin Ferreira/Alan Myatt) e ao mesmo tempo não julgar a insolência de uma outra igreja local que, abertamente, descredencia a decisão disciplinatória de outra.

“Em Mt.18:15-20 Jesus disse que um irmão em pecado deve ser confrontado, reprovado e excluído da igreja, caso não se mostre arrependido” (Teol.Sistemática Franklin Ferreira/Alan Myatt).

Essa recomendação perde totalmente sua eficácia, se os pastores não tomarem a firme resolução de respeitarem as ações disciplinares de outras igrejas, praticando a troca de cartas de transferências, E-Mail’s, telefonemas, enfim buscarem, junto a igreja de origem o histórico de crentes que chegam.

Em caso de membros em situação de pendência disciplinar, recomendar que retornem e resolvam as pendências existentes, e só então, recebê-los como novos membros, nunca antes disso.

“Se os membros fossem aceitos nas igrejas baseadas simplesmente nas declarações destes que desejam ser membros haveria grande potencial para o mal. Pois então cada ‘Cristão carnal’ que tivesse sido excluído de uma igreja por impiedade ou heresia, poderia simplesmente ir para uma outra igreja, proclamando-se um cristão bom e espiritual, e teria que ser recebido como um membro”. (Davis W. Huckabee).

O episódio envolvendo Ananias e Safira em Atos 5:1-11 nos ensina a seriedade do pecado deliberado, enquanto 1 Coríntios 5:1-5 nos adverte para a gravidade do pecado tolerado.

A atitude de desrespeitar uma igreja de Cristo, recebendo como membro uma pessoa excomungada pela mesma, desmoraliza a noção de seriedade que se deve ter para com o pecado, enquanto rouba-se de uma igreja de Cristo o respeito que lhe é devido.

“É uma triste verdade que muitas igrejas, em seu zelo por números, põem de lado a disciplina das igrejas co-irmãs quando propositalmente recebem membros excluídos de outras igrejas sem requerer que o membro excluído corrija a sua situação com a igreja anterior”. (Davis W. Huckabee).

É bom lembrar que, as verdadeiras igrejas estão diante do Senhor, os que promovem tal prática desmoralizante, certamente receberão severa reprovação dEle.

“… se cada igreja requeresse carta de recomendação das igrejas co-irmãs antes de aceitar um novo membro, e somente fizesse exceção a esta regra após uma completa verificação das circunstâncias… então diminuiria, e muito, a destruição das igrejas por pessoas mundanas que se mudam de igreja em igreja como andarilhos maldosos destruindo [ou contaminando] uma igreja após outra…” (D.W.Huckabee).

Na verdade os pastores deveriam ser exemplos para o rebanho de Cristo no cumprimento de 2 João 10-11 e não buscarem proveito numérico na desobediência. “Não pode haver uma igreja sem disciplina eclesiástica” (Martin Bucer).

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Divulgação: www.jorgenilson.com

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