Quando o tema são os crimes hediondos contra a humanidade cometidos ao longo do século XX, nenhuma figura é tão emblemática quanto Adolf Hitler. Mais de 120 mil publicações sobre o líder do Partido Nazista Alemão circulam pelo mundo e filmes não cessam de ser produzidos. O que ele fez está amplamente documentado. Quem foi Hitler, o homem, permanece, no entanto, um enigma. Como ele era nas suas relações pessoais, o que o ancorava emocionalmente, como foi sua mocidade?
O Segredo de Hitler, de Lothar Machtan, mergulha nessa lacuna e ajusta o foco no sujeito Adolf, iluminando, sobretudo, o período mais obscuro da vida do futuro führer - a juventude em Viena e o início da carreira político-militar, já na Alemanha.
Da pesquisa, emerge um verdadeiro segredo de Estado: Adolf Hitler era homossexual. O autor demonstra que só é possível começar a compreender a pessoa Hitler e a sua trajetória política, caso se considere este aspecto de sua identidade. Isto porque as evidências indicam que o homoerotismo pontuava as relações da cúpula do partido nazista. Em casos raros, como o do chefe do serviço secreto, Ernst Hölm, a opção sexual era explícita.
Numa sociedade profundamente conservadora, na qual o homossexualismo era crime, Hitler não mediu esforços para preservar o segredo que, se revelado, o arruinaria politicamente: roubou documentos e arquivos, subornou, chacinou. Outros que conheciam a verdade não suportaram a pressão e se suicidaram. Hölm, por exemplo, foi assassinado.
Considerado um dos principais historiadores da Alemanha, Lothar Machtan assinala que não pretendeu abordar o tema da homossexualidade de Hitler de forma preconceituosa ou sensacionalista. Ao contrário: "O que quero é elucidar a relação entre história particular e a política do Terceiro Reich".
A opção sexual reprimida obrigou Hitler e seus companheiros mais próximos a transformar o partido nazista num círculo extremamente fechado e compacto, cujos membros nem sempre eram nomeados pela qualidade política que o cargo exigia, mas por que vivenciaram o homoerotismo e mantinham-se discretos e fiéis ao führer.
Para montar o quebra-cabeças que é a vida pessoal de Hitler, Lothar Machtan reconstitui seus passos desde a juventude e flagra um Adolf que convivia com grupos homossexuais e perambulava pelas ruas de Viena como um dândi desglamourizado: sem dinheiro, morou em albergues populares. Sem o talento que gostaria de ter para as artes, rodava a zona boêmia atrás de quem comprasse algum dos postais que pintava. Sem saída, alistou-se no exército alemão para garantir o pão de cada dia. Encontrou um ambiente ostensivamente homoerótico e as figuras-chave que o catapultaram ao poder.
Lothar Machtan mapeia os parceiros de Adolf Hitler ao longo da vida, o começo, o meio e o fim dessas relações. Da leitura ficam claras, ainda, as bases amórficas das raríssimas relações heterossexuais de Hitler. Com Eva Braum, conta o autor, Hitler se casou oficialmente pouco antes de se suicidar, num último ato para forjar a sua masculinidade perante a História.
Será impossível, daqui para frente, analisar o homem Hitler e as relações pessoais com a sua entourage sem levar em conta os dados apresentados por Lothar Machtan. Como um íntimo perfil de Hitler e um surpreendente retrato da natureza homoerótica do Terceiro Reich,O Segredo de Hitler é a maior e certamente a mais controvertida contribuição ao universo das obras sobre os bastidores do governo que levou a Alemanha à barbárie e mudou a face do mundo.
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